segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Magia

Esse é um assunto controverso tanto dentro quanto fora do meio druídico: algumas linhas enfatizam o aspecto devocional, religioso ou cultural dos rituais e não dão muita importãncia ao lado mágico, enquanto outras dedicam boa parte do treinamento, já nos primeiros passos, ao seu estudo e prática.
A imagem do Druida como Mago é poderosa, como certos personagens bem o provam e as lendas da Irlanda o registram, a tal ponto que em Irlandês moderno a palavra para magia é draíocht, "druidismo" (e por isso, na versão irlandesa dos livros de Harry Potter, Hogwarts se torna um Colégio Druídico ao pé da letra!)
O problema é que, fora alguns itens arqueológicos, relatos de folcloristas e trechos de histórias, não se conhece nenhum sistema de teoria e prática mágica Celta que tenha sobrevivido até hoje, e assim qualquer tentativa de usar magia precisa tomar emprestadas as práticas de outras linhas ou tentar reconstruir as práticas a partir do pouco que se sabe.
Antes de John Michael Greer se tornar o Arquidruida da AODA (que enfatiza o treinamento em magia já no grau de Candidato), ele criou para a Guilda dos Magos da ADF um sistema de magia adaptado ao rito-padrão deles, bastsnte completo e eficaz.
Ian Corrigan, também da ADF, vem desenvolvendo um trabalho de reconstrução mágica em seu blog que recentemente culminou em um manual, The Nine Moons, um treinamento passo-a-passo em magia num contexto Celta, rico em teoria e prática.
Mas, dirão alguns, porque magia? Se Arthur Clarke disse que "uma ciência suficientemente avançada é indistinguível da magia", isso significa que a ùltima pode ser substituída pela primeira e portanto está obsoleta?
A questão é que ambas não são a mesma coisa, nem em seus paradigmas e nem em seus propósitos -- como foi dito com muita sabedoria por Neil Gaiman no primeiro volume dos Livros da Magia,

"Ciência é o método de falar sobre o Universo com palavras que o definem numa realidade partilhada; Magia é a arte de falar ao Universo com palavras que Ele não pode ignorar".

E se uma das definições do Druidismo é a prática da intercomunicação entre a humanidade e o Mundo do qual ela faz parte, por essa definição todo Druida é um Mago, formalizando sua prática ou não -- só mais uma citação, esta de Peter Beagle em The Last Unicorn:

"Só para o Mago o mundo é sempre fluido, infinitamente mutável e eternamente novo: só ele conhece o segredo da mudança, só ele sabe que toda coisa anseia por se transformar em outra coisa, e é dessa tensão universal que ele tira seu poder".

Leitor, você ainda é o mesmo que era quando começou a ler isto?

Bendita a Magia, linguagem secreta do Mundo
Benditos os Magos, que por ela falam ao Mundo
Bendito o segredo da Mudança
que mantém o Mundo girando

Um comentário:

Maria disse...

Não, eu não sou a mesma que era quando comecei a ler estes artigos.
Muito obrigada, Druida.