segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Epona

Ontem, 18 de Dezembro, foi comemorado por muitos o dia consagrado a Epona, a deusa-égua, divindade pan-Céltica dos cavalos e da Soberania, cultuada até mesmo pelos Romanos após a dominação dos Celtas.
Há três temas míticos associados a Ela, direta ou indiretamente, que apontam para uma questão que tende a ser ignorada mas que é essencial para o nosso tempo.
No mito, uma Divindade hediondamente feia pede um beijo aos candidatos a herói, o que a maioria recusa: apenas o verdadeiro herói atende o pedido e descobre a beleza oculta atrás da feiúra, recebendo Dela o dom da Soberania.
No rito, o candidato a rei tem relações sexuais públicas com uma égua branca, que depois é sacrificada e cozinhada para ser servida ao povo pelas mãos do rei, que é banhado no caldeirão do cozido durante o banquete.
Na lenda, uma família nobre tem sua origem na união do ancestral com a Soberania, que assume a forma da égua antes ou depois da união.
O que há em comum aos três temas? A idéia de que a Soberania é um Poder autônomo, provindo do Outro-Mundo, que dá seus favores aos que a vêem como realmente é, olhando além das aparências (ou, como digo, com olhos-de-Druida).
E o que isso tem a ver conosco, mortais plebeus do século XXI?
Não se trata de restaurar a monarquia, ou de conferir poderes quase-reais a um líder carismático que nos livre das crises contemporâneas: os reis tiveram sua chance em seu tempo, e o exemplo alemão do que acontece quando se dá ouvidos a um carismático-mas-louco líder ainda está, ou deveria estar, bem fresco na memória.
O que este tempo parece exigir de todos nós, de cada um, é que a Soberania seja cortejada e desposada por todos, sem exceção -- que cada pessoa assuma o governo de sua casa, sua vida, seu mundo, e que todas essas vontades soberanas se aliem num pacto para governar nosso mundo numa regência compartilhada em nome da Soberania, a legítima Rainha, de quem todos seremos os consortes.
O grande obstáculo aqui está expresso nos mitos: a Soberania é horrível, e a primeira reação diante dela é a repulsa -- muitos, se não a maioria de nós, temos horror à idéia de governo, política, administração ou poder, e tendemos a explicar isso por via de um idealismo equivocado que vê o poder como sujo, vil, corrupto/corruptor, "feio" em suma, e assim falhamos no teste que Ela propôe.
Só quando olhamos com olhos-de-Druida podemos ver a verdadeira face da Soberania e entender que, qualquer que seja o nosso dán, parte dele implica em desposar a Soberania e assumir nossos deveres junto a todo mundo como co-regentes em nome Dela -- parte da força dos recentes movimentos civis pelo mundo afora, protestando contra os desmandos das autoridades constituídas, vem dessa consciência ainda obscuramente pressentida de que eles tem um mandato para governar e a responsabilidade de usá-lo bem para o bem geral, de que a Soberania não é um título vazio ou a mera promessa de riqueza ou poder, mas sim uma Deusa a ser cortejada e desposada, se passarmos no teste e nos provarmos merecedores disso.
Ainda é tempo: hoje mesmo, ofereça uma rosa a Epona, faça uma oração breve de agradecimento -- e se ela pedir um beijo, olhe bem nos olhos Dela e não recuse...

Bendita a Soberana, Rainha do Mundo
Bendita a Égua Branca na Colina Verde
Benditos os que A reconhecem como Rainha,
pois regerão o mundo em Seu Nome

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