Provavelmente o culto dos Espíritos da Natureza é o mais característico do meio pagão em geral e druídico em particular (pois todas as crenças, mesmo as monoteístas, adoram a Divindade e de algum modo honram aqueles que se foram, mas só as de cunho animista reconhecem que a Natureza é povoada de seres de outra ordem de existência e lhes prestam reverência).
Mas essa questão é, talvez, a mais mal-compreendida e sujeita a distorções e erros de todo o tipo, talvez porque Eles se manifestam como sendo Outros, num estranhamento mútuo que levou nosso relacionamento com Eles a ser, digamos assim, mais tumultuado que com os Deuses ou os Ancestrais.
Por exemplo, o que há de comum entre os altos, lascivos e ferozes Sídhe das colinas da Irlanda e as minúsculas fadinhas da era Vitoriana, de asas de borboleta e véus de gaze?
Porque a tradição da Irlanda é ambivalente quanto a Eles, aconselhando a lhes ofertar leite com mel na soleira da porta de casa para atrair suas bênçãos mas evitando a todo custo chamá-los pelo nome "fadas" e usando eufemismos como a Boa Gente, o Povo das Colinas, em seu lugar?
De que modo os contos de Perrault e dos irmãos Grimm vieram a chamar as entidades benfazejas que ajudam Cinderela e a Bela Adormecida de "fadas madrinhas", quando o folclore irlandês registra dúzias de orações e simpatias cujo único propósito é evitar que os bebês recém-nascidos sejam raptados pela Boa Gente?
Porque Morgana, irmã do rei Arthur, é sempre chamada de Fada (e até hoje a miragem das costas do Adriático, que pôe em risco a navegação, é chamada pelos marinheiros de "fatamorgana")?
Autores como R.J.Stewart e Kathryn NicDhàna observaram com muita propriedade que as Gentes não são um grupo monolítico e coerente, mas sim incontáveis tribos diferentes, algumas delas declaradamente hostis aos humanos, outras amigáveis e até dispostas a trabalhar em conjunto com eles, e uma maioria que alterna entre a curiosidade e a indiferença por nós -- aí caberia o discernimento, por parte do humano interessado, de saber claramente que tipo de ser ele está contatando dentre a Boa Gente e como lidar com ele, e levando em conta que nós somos tão "alienígenas" para eles quanto eles para nós, e que por isso eles podem nos causar dano sério com a maior das boas intenções justamente por causa dessa ignorância básica sobre nós, sem qualquer má-fé implicada -- como diz o ditado, "prevenido é preparado"
Mas o mundo dos Espíritos da Natureza inclui outros seres: por exemplo, as entidades animais, vegetais e minerais que o xamanismo chama de Aliados de Poder são desta ordem, e após milênios de interação com os xamãs um protocolo de cooperação mútua e um sentimento de boa vontade entre ambas as partes já está bem estabelecido e oferece um caminho seguro para quem quiser seguir (desde que com a devida orientação); dentro de certa medida, o mesmo vale para os Elementais da Magia Cerimonial ou os Devas da Teosofia.
O que eu posso dizer é que, quando criança, eu sabia que podia chamar o vento ao abrir os braços devagar, e ele sempre vinha -- eu tinha a intuição que não era coisa minha, mas de um Outro que fazia o vento e vinha ao ser chamado pelo gesto -- e hoje ele é um dos seres com que eu cultivo um relacionamento, sabendo dele nome, símbolo e tudo, mas não os conto a ninguém (as lendas dizem que se o humano trai a confiança da entidade e revela seus segredos, o vínculo se rompe e a entidade se afasta, com sorte sem retaliação...).
Só posso dizer, a quem se interessar em seguir o caminho de um relacionamento mais profundo com a Natureza, que se escolher bem seus guias e tratar a relação de modo honrado, as portas do Outro-Mundo se abrirão...
Bendita a Natureza e seus Espíritos guardiâes
Benditos os Espíritos e aqueles que os amam
Benditos os vínculos de confiança mútua
a serem tecidos entre nós e Eles
Ancient Wisdom Beats Psychoanalysis
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I recently came across this article discussing a recent study on managing
anger. The study examined the concept of "venting" to see if it reduced
anger e...
Há 3 dias
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