A história mais associada à amoreira, pelo menos no cânone ocidental (desconheço mitos chineses sobre ela) é a de Píramo e Thisbe, que encontramos primeiramente numa das histórias das Metamorfoses de Ovídio: na Babilônia, dois jovens separados pelos pais, que se comunicam por uma fenda no muro entre suas casas, tentam se encontrar, mas uma série de desencontros trágicos e falsas impressões levam ambos os amantes a tirarem a própria vida, e o sangue misturado dos dois, jorrando sobre as raízes de uma amoreira branca, mudou para sempre a cor de seus frutos.
Ao que parece, isso tem origens num mito babilônico fragmentário e semiesquecido antes de Ovídio reciclar a história; entre os séculos XIV e XVI, vários autores por toda a Europa escreveram suas versões dela, mas foi Shakespeare que a tornou famosa como a peça encenada pelos atores-bufôes em Sonho de una Noite de Verão (com um ator representando o Muro e fazendo com a mão o buraco pelo qual os dois enamorados trocam juras de amor) e, não contente com isso, reciclou o tema do desencontro e o duplo suicídio para a conclusão trágica de Romeu e Julieta.
Em tempos mais modernos, a história tem uma alteração onde os pais dos dois amantes fingem discórdia para levar ambos a desafiá-los e se encontrarem, que resultou no musical The Fantasticks em 1960; nem os Beatles se furtaram a falar disso (num esquete televisado onde John fez a Thisbe, Ringo o leão que a ameaça, e por aí vai) e obviamente os Simpsons tinham que contar a sua versão da história...
E assim é que as histórias nascem, crescem e se propagam, como árvores cujos frutos geram novas plantas, e assim perpetuam seu legado.
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