segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Endovélico, Semana 25: Testemunho Negativo


Agora entramos num caminho acidentado.
Eu posso dizer, sucintamente, que em várias ocasiões pedi coisas a Endovélico que não me foram concedidas, mas se ficar só nessa afirmação isso soaria como uma queixa magoada ou uma afirmação resignada de fé ou mesmo uma desconfiança básica no próprio valor dele como uma divindade digna de culto, e por isso vamos ter que expandir a discussão...
Os últimos 4 mil anos de monoteísmo compulsório nos fizeram crer que o Único deus (ou Deus, como ele gosta de ser chamado) não pode ser senão onipotente e onisciente, ou não seria Deus; claro, isso não dura senão até o velho paradoxo

"Deus pode criar uma pedra tão pesada que nem mesmo Ele poderia levantá-la?"

...que não era um paradoxo para as fés politeístas, para as quais as Divindades, mesmo sendo imensamente mais poderosas e sábias que os seres humanos, ainda assim tinham limites perfeitamente óbvios e naturais ao seu poder e sabedoria, e para quem a pergunta acima simplesmente não faz sentido algum.
O tema desta Semana, ou seja, em que situações eu fiz pedidos a Endovélico que não me foram concedidos, não pode ser corretamente entendido se não olharmos os pressupostos da cultura ocidental cristã dos últimos dois milênios -- aquilo que a Filosofia e a Teologia chamam de "O Problema do Mal", ou seja,

"porque um Deus amoroso e todo-poderoso permite a existência da injustiça, da doença e do mal no mundo?"

Filósofos já abordaram o tema de modo negativo: se Deus não pode eliminar o mal da Criação, Ele é impotente; se pode, mas não o faz, Ele é desumano; em qualquer caso, Ele não é digno de nossa devoção -- os teólogos mais ortodoxos, por outro lado, consideram tudo como sendo um Mistério, ininteligível à compreensão humana, e portanto não devemos perder tempo com essas perguntas perigosas e possívelmente heréticas...
E mesmo no meio esotérico/pagão a questão continua sem resposta, agravada por interpretações distorcidas de conceitos ocultos como o karma e a evolução espiritual -- sofremos, segundo essa visão, por consequência do que fizemos de errado em vidas passadas, e é tudo para o nosso aprendizado; ou, mais recentemente, segundo certos livrinhos nefastos de auto-ajuda, sofremos porque criamos errado a nossa realidade, e é tudo responsabilidade nossa.
(...desafio essa gente espiritualizada a dizer isso aos pais daquela criança morrendo de câncer, olhando bem nos olhos deles, e depois que eles acabarem de quebrar cada dente de suas INÚTEIS bocas, aplicar esses "ensinamentos" à sua própria situação!)
O que as fés antigas tem a dizer a respeito disso, eu aqui escrevo: o Universo está repleto de coisas que nos são benéficas, indiferentes ou danosas; os Deuses, pela nossa experiência (a minha, a de meus companheiros pagãos, e a de milênios de observação atenta) são benevolentes e justos, e nos exortam a exercermos a benevolência e a justiça do melhor modo que pudermos; se eles não tem poder, individual ou coletivamente, para eliminar o mal e a imperfeição do mundo, pelo menos nos dotaram de razão, compaixão e coragem para enfrentar esses males e imperfeições na medida do possível, e nunca nos negam auxílio nisso (entendido como um reforço da razão, compaixão e coragem dentro de nós).
Se eu estivesse diante daqueles pais daquela criança acima mencionados, eu não perderia meu tempo ou o deles tentando "explicar" o porque daquela situação de sofrimento físico e emocional; eu perguntaria o que poderia fazer para ajudar, e faria o que estivesse ao meu alcance, porque é o certo e justo a se fazer numa situação dessas, e porque meu deus prefere ações plenas, mesmo que limitadas, a palavras vazias, porque é através de mim que ele agiria ali.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Endovélico, Semana 24: Testemunho Positivo


Depois destas semanas de ver Endovélico manifestado nas artes, esta semana volta ao campo pessoal -- como é quando um pedido a ele feito é atendido, e de que modo isto se manifesta em minha vida?
Passei a semana tentando lembrar de um momento em especial, alguma coisa mais dramática, algum evento tão portentoso que deixasse o mais cético dos leitores de boca aberta: "Ooooohhhhhh..." -- mas não me lembrei de nada assim.
Não é que não me lembre propriamente, porque eu tenho o costume de anotar toda a minha prática em diário há quase 20 anos, e essas anotações incluem vários episódios de graças concedidas; a questão é que virtualmente todas elas ocorrem de modo tão simples e direto, sem trovões ou raios de Luz divina vindos do alto (ou, no caso dele, de baixo...) que poderiam perfeitamente bem passar desapercebidas como tal sem o hábito do registro diário.
Em inúmeras ocasiões tive dores e doenças variadas, minhas e de outras pessoas, aliviadas ou mesmo curadas (num episódio, quase instantaneamente) e o fato disso ocorrer com pessoas que não sabiam das minhas invocações ao Curador já afasta sugestão ou placebo como possíveis explicações.
Precisando de orientação do seu aspecto Oráculo, mesmo sem minhas ferramentas oraculares à mão (trataremos disso em outra postagem), presságios via eventos locais, pedaços de conversas de estranhos, músicas no rádio e outros eventos aleatórios foram plenamente suficientes para me dar as respostas de que precisava, sem demora ou ambiguidade.
Quanto aos dons do Psicopompo/Senhor dos Mortos, muitas vezes orei a ele por outras pessoas, próximas ou distantes, sem, obviamente, poder avaliar com precisão se fui atendido ou não -- provavelmente, só saberei com certeza quando for a vez da minha jornada final e eu puder ver a Ele com clareza pela primeira vez.
Esse é o meu testemunho de Endovélico.
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(E vocês, que me lêem: que testemunhos vocês tem de suas Divindades, quais deles vocês podem (e querem) partilhar?)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Endovélico, Semana 23: Literatura Evocativa

Quando Noah Gordon escreveu O Físico em 1986, não sabia estar escrevendo um best-seller mundial (recém-transformado em filme, mas eu não o recomendo) e reapresentando Ibn Sina, ou Avicena, ao mundo.
O protagonista da história, num exercício de liminaridade levado ao extremo, se transforma de aprendiz de barbeiro medieval inglês em aluno judeu da maior escola de medicina da Pérsia (e talvez do mundo, na época), movido por uma paixão pela arte de curar raras vezes tão bem retratada; como não podia deixar de ser, a Morte vem sempre ao lado da Vida, tanto no ato clandestino (porque ilegal e sacrílego) da autópsia cadavérica para fins anatômicos quanto no dom secreto de saber quem vive ou morre com um toque (e do fardo que dons assim acarretam a seus possuidores).
Historicamente acurado e eticamente embasado, é um livro que deveria ser parte do currículo das escolas médicas, mas que recomendo a todos não só pelo enredo, cenários e personagens, mas também por ser um de muitos canais para manifestar os dons de nosso deus no mundo.