domingo, 17 de agosto de 2014

Endovélico, Semana 6: Panteão

Esta semana a dificuldade é de outra ordem, pois o próprio conceito de "panteão", que se aplica bem aos Keméticos, de quem peguei emprestado esse desafio das 30 Semanas, simplesmente não existe como tal entre os povos da Ibéria -- diferentes povos, e mesmo diferentes aldeias, mesmo que relativamente próximas, cultuavam Divindades diferentes, e são muito raros os casos em que uma delas teve culto em mais de, digamos, cinco localidades; a ênfase era no culto a uma, duas ou três Divindades locais, quase na categoria de Genii Loci, ou seja, entidades vinculadas a uma colina, rio, fonte ou outra locação geográfica, considerada como a morada do Genius, como no caso de Endovélico, associado às colinas de São Miguel da Mota e Rocha da Mina e ao rio Lucefecit (há quem alegue que ele teve culto no santuário de Panóias, bem longe do Alentejo, e lá seria sincretizado com o deus romano-egípcio Serápis, mas isso é controverso); assim, vou considerar o termo panteão em latu senso, me limitando às outras Divindades do meu culto pessoal, sabendo bem que elas certamente não foram cultuadas conjuntamente em sua origem.
Já falei de Ategina semana passada, e agora vou falar de outros Deuses e Deusas "revelados" a mim pelo livro "A Voz dos Deuses", começando por Tongoenabiago, o deus da Fonte do Ídolo em Braga (o que sugere que ele era cultuado por meus ancestrais diretos, já que meu avô paterno veio de lá), cujo nome vem de uma raiz céltica significando "juramento", que sugere que havia o costume de se jurar pelas águas da fonte, com Tongoenabiago como testemunha do juramento; eu intuo como seus atributos o cão, a cor branca, o grou e o amieiro, e como objeto ritual o cálice.
Coaranioniceus é outro, desta vez na região do Monte Santo de Olisipo, hoje o Parque de Monsanto em Lisboa: alguns o associam ao chamado "Ares Lusitano", deus guerreiro a quem se sacrificavam cavalos, bodes e prisioneiros de guerra, e também como regente das minas de ouro e metais da região, e assim eu o vejo como senhor da abundância e da guerra, com o cavalo e o vento (uma lenda registrada pelos cronistas romanos fala da manada de cavalos sagrados, nascidos de éguas fecundadas pelo vento, que ali viviam) como seus atributos.
Runesocesios ("do mistério da lança"), cultuado em Évora, a mim sugere um guerreiro mais feroz que Coaranioniceus, com sua lança sendo o raio dos céus, e regendo o carvalho, o touro e a espada.
Bandua, padroeiro dos bandos de guerreiros unidos por votos sagrados, é às vezes chamado "o que ata" e uma imagem recém-encontrada, supostamente dele, o mostra com uma corda atada à volta do peito como símbolo desse vínculo; gamo, teixo e corvo são para mim consagrados a ele, que é um dos raros cultuados em diversas localidades, com títulos anexos ao nome como Banderaiecos, Bandioilenaico, Bandueaetobrigos, etc, etc...
Trebaruna, "mistério da casa", é a guardiã do lar (e ligada ao fogo da lareira) e a protetora dos heróis, tocha numa mão, lança na outra, carneiro, pássaro-preto e sorveira como atributos -- Leite de Vasconcelos escreveu muito sobre ela, tanto textos acadêmicos como poemas, e ela foi divulgada ao mundo quando o grupo Moonspell compôs uma música em homenagem a ela, o que a torna uma das Divindades mais conhecidas fora de Portugal.
As duas Deusas que se seguem não são mencionadas por nome no livro de João Aguiar, mas se impuseram a mim de modo difícil de recusar...
A Deusa da Serra da Lua, em Sintra, se manifestou a mim vestida de negro e velada, com a lebre, coruja e salgueiro como seus atributos; o nome que me veio foi Cintia, o antigo nome de Sintra, mas ela avisou que tinha outro nome que mais tarde eu descobriria, e agora a conheço como Iccona.
A Deusa da Serra da Estrela, ou os Montes Hermínios, se apresentou como Hermínia (mas disse que não era "exatamente" assim o seu nome, que anos depois li num artigo sobre os Celtas da Ibéria como Erbina), associada por mim ao urso, falcão e bétula.
Como disse, uma assembléia de Divindades de locais e características as mais diversas, uma pequena parte de todas as cultuadas na Ibéria, dificilmente um panteão nos moldes tradicionais, e que só tem em comum seu culto no meu altar e sua presença em minha alma.


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