sábado, 19 de novembro de 2011

Terra e Natureza

Outra definição do Druidismo: a ecologia-como-religião, a veneração do mundo natural (o famoso estereótipo dos druidas modernos como "hippies-abraçadores-de-árvores", mesmo distorcido, reflete bem a percepção popular dos Druidas como estando de algum modo vinculados ao mundo natural).
Mas o que é isso de "Natureza"? O que é essa dicotomia natural/artificial?
Definição de natural: tudo que existe na Natureza, não-manufaturado.
Definição de artificial: tudo feito pelo homem, material (ferramentas) ou virtual (linguagem).
Mais uma vez olhando com olhos de Druida, vemos aqui um pressuposto invisível, que infiltra a cultura ocidental e é a fonte da crise ecológica moderna: o homem está fora da Natureza.
E se olhássemos o ser humano como parte da Natureza, o que veríamos?
Abelhas fazem colméias, castores constroem diques, aranhas tecem teias: mesmo chimpanzés, nossos primos mais próximos, usam gravetos para pescar formigas ou folhas para beber água -- assim, o fato de criar ferramentas não nos desabona enquanto seres naturais, mas caracteriza nosso nicho ecológico, nossa função no ecossistema, e só é letal se estiver desconectado do meio ambiente ou for exercido de modo desordenado/desarmônico.
Construir cidades, por exemplo, não é danoso em si mesmo, mas é apenas a extensão e impacto ambiental das cidades hipertrofiadas que as caracteriza como destrutivas ao mundo natural -- e, mesmo assim, mesmo em São Paulo, uma das maiores cidades das Américas, não há como escapar da presença persistente da Natureza, seja em parques como Ibirapuera, Aclimação, Horto Florestal, Cantareira, Jardim Botânico, seja em praças maiores ou menores, seja em canteiros nas calçadas, ou em casos ainda menores:

Jack do you never sleep, does the green still run deep in your heart?
Or will these changing times, motorways, powerlines, keep us apart?
Well, I don´t think so
-- I saw some grass growing through the pavements today

(Jack-in-the-Green, do Jethro Tull)

E onde nós, Druidas, entramos nisso?
Se a Natureza persiste mesmo nas condições mais adversas, se na verdade Gaia não está doente e nem morrendo (e como poderia, se ela é maior, mais velha e complexa que toda a humanidade e já passou por eras glaciais e de aquecimento global sem cessar em seus bilhões de anos?), então não vamos fazer nada para evitar as mudanças climáticas e preservar o ambiente?
A questão é que Gaia pode se adaptar e superar esta crise, como superou outras, mas nada garante que nós, humanos, vamos conseguir o mesmo -- na última era glacial a humanidade foi dizimada pelo frio e fome a ponto de só restarem mais ou menos 20 mil indivíduos, e qualquer ecologista dirá que esse número descreve uma espécie à beira da extinção: daquela vez escapamos, mas quem garante que o milagre se repetirá agora?
Nós, humanos, somos parte inseparável da Natureza; defender a Natureza é defender a nós mesmos e às gerações futuras, defender a humanidade e conscientizá-la da importância de buscar um relacionamento harmônico com a Natureza é defendê-la também -- e se isso não é uma tarefa digna de Druidas, não sei mais o que seja!

Bendita a Natureza, onde temos todos nosso ser
Bendita a Humanidade, filha hábil da Natureza
Benditos os laços imperecíveis que nos unem
no grande Círculo da Vida

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