quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Prática Diária

Uma coisa que muita gente pergunta aos que seguem o Druidismo: "Tá bom, vocês tem esses oito Festivais no ano -- e nos intervalos, vocês não fazem nada?"
Concordo que as grandes cerimônias, os mitos sazonais, as oferendas, música, dança, comida (e bebida...) que caracterizam os Festivais são pontos altos do ano cerimonial, mas se fosse só isso que o Druidismo tivesse para oferecer, seria o caso de perguntar se essa religião vale a pena...
Como foi dito, com muita propriedade, por uma famosa Druidesa do Pará, nem todos os seguidores do Druidismo tem uma vocação para serem Druidas e viverem em grandes ritos; guerreiros, bardos, artesãos, curandeiros, donos-de-casa tem seu lugar no Bosque Sagrado, e todos esses caminhos se fundamentam nas práticas diárias de cada um.
Imaginem uma cultura onde cada ação, por mínima que fosse, do despertar cedo ao adormecer, fosse pontuada por pequenas preces, gestos do dia-a-dia como acender a lareira de manhâ e apagá-a à noite, comer, beber, estrear uma roupa nova, ver o primeiro fio da Lua Nova, etc, etc, etc...
Pois bem, isso era a prática corrente das aldeias da Escócia no século XIX, quando Alexander Carmichael saiu de povoado em povoado, puxando conversa com pastores de ovelhas, tecelãs, ferreiros, padeiras, e recolhendo todas as orações de que eles se lembravam, numa coleção -- a Carmina Gadelica -- que é leitura essencial para quem segue um caminho Celta e quer aprender a encher seus dias e noites da presença do Sagrado:

"Saudações eternas a ti,
ó Lua Nova, nesta noite,
Pois tu és para sempre
A alegre lanterna dos pobres
"
(Oração da Lua Nova)

Algumas pessoas, além das orações, sentem falta de algo visível/palpável que as ajude a se lembrar da sacralidade do dia-a-dia, e para essas o altar doméstico é uma boa opção: não é necessário ter dúzias de objetos e centenas de estátuas (nunca é demais lembrar que os Celtas só começaram a fazer imagens dos Deuses após a romanização, e ainda assim raramente), mas algo simples como o Fogo (vela/incenso), Água (cálice) e Árvore (vaso de flor, ramo colhido, escultura), evocando os 3 Reinos, já basta como estrutura básica: uma central de símbolos diante dos quais a mente se aquieta e redescobre o Sagrado ali e em si mesma, em preces matinais e/ou no final do dia, em oferendas de comida, bebida, flores, incenso, poemas/canções...
Além dessas práticas gerais, outras se agregam à lista de acordo com o caminho individual do praticante: um Guerreiro pode oferecer uma hora de treino de arte marcial a Morrighán, um Bardo pode fazer votos de escrever um poema por dia em nome de Oghma, um devoto de Brighid pode fazer a vigília do Fogo Sagrado em seu nome, um Druida pode se dedicar a memorizar uma Tríade por dia...
Não haverá quem tenha uma prática igual a de outra pessoa (o que seria sinal de uma falta de imaginação indigna de quem professe seguir o Druidismo!), mas todas, diferentes como sejam, simples ou complexas, só se justificam se levarem os que as praticam a despertar a consciência da Presença em cada momento do dia.

Bendito meu dia quando desperto
Bendito tudo quanto nele fizer
Bendita minha noite quando me recolho
E meus sonhos, até o Sol nascer

Um comentário:

Darona Ní Brighid disse...

Famosa druidesa do Pará?? kkkkkkkkk ah tá bom ;) rsrs
Bjs!