segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Endovélico, Semana 17: Relações com Outros Panteões


Esta semana talvez seja polêmica, por tocar na questão delicada de se a semelhança entre Divindades de panteões diferentes significa identidade, o que foi a base da famigerada interpretatio romana e todas as conquistas e confusões que ela nos trouxe...
Começamos pelo sincretismo básico já estabelecido de Endovélico com Esculápio, discutido à exaustão em semanas anteriores, e que embora nos revele muito sobre nosso deus, também oculta -- já vimos uma interpretação errônea que o identificava com Cupido, e também vimos que ele teria tudo para ser correlacionado com Plutão (como Senhor dos Mortos) ou Apolo (Curador/Oráculo), mas essa associação não ocorreu.
Não há registro histórico de sincretismos dele com Divindades de outros panteões (exceto em um caso muito especial, a ser discutido mais à frente); no entanto, sem compromissos com a História, com quem associaríamos Endovélico?
Entre os Deuses do Egito, Tehuti seria uma escolha pelo lado do Oráculo/Curador, mas o Senhor dos Mortos teria mais a ver com Ausar , morrendo e revivendo com os ciclos do Nilo, recebendo as almas diante de seu trono no Amenti.
Não consegui, por mais que tentasse, uma correlação plausível com nenhum dos Deuses dos Nórdicos -- poder-se-ia pensar em Odin auto-imolado na árvore Yggdrasil para obter as Runas, mas é uma associação muito frágil e estreita para ser de algum valor.
No caso dos outros Celtas além da Celtibéria, os Gauleses teriam os Curadores Bormanicos e Grannus e o ctônico Dis Pater como candidatos, com o agravante de seus mitos nos serem desconhecidos; na Irlanda já encontramos Miach, filho de Diancecht, cujo mito espelha o de Esculápio, e em Gales o sombrio Arawn, rei das profundezas do Annwn, seria uma opção viável.
E quanto ao "caso muito especial" mencionado acima?
Por mais que eles estrebuchem quando se diz isso, os Católicos têm um verdadeiro panteão, com culto a Divindades secundárias (os Santos e Anjos), à Trindade, e à posição exclusiva da Virgem como sinais característicos; já vimos que tradicionalmente o Arcanjo Miguel é consagrado nas colinas que ostentavam cultos pagãos, e o santuário de São Miguel da Mota é o exemplo no caso de Endovélico -- mas, como já discutimos em outra ocasião, o Guerreiro Luminoso e o Dragão Sombrio são duas faces inseparáveis do mesmo mito, e assim Miguel e a Serpente poderiam ser entendidos como os lados solar e ctônico de Endovélico.
Mas ainda há mais: alguns pesquisadores consideram que o culto a Santo Antão seria uma sobrevivência cristã do de Endovélico...um santo curador, acompanhado de um porco, fazendo sua ermida numa tumba de um cemitério abandonado cheio de serpentes, onde os peregrinos se sentavam ao lado da tumba para buscar o conselho do eremita e sua voz vinha lá de baixo -- se isso não evoca o EX IMPERATO AVERNO não sei o que o fará!
E como se isso não bastasse, os cultos familiares da Bruxaria Tradicional Ibérica levam o simbolismo às últimas consequências, encobrindo Endovélico sob a face do Curador e Ressuscitado por excelência, chegando a adornar crucifixos com símbolos do culto original e efetivamente transfigurando-os em ícones do antigo deus à imagem do novo.
Quanto dessas relações de similaridade são formas válidas de representação do deus, mesmo não sendo autênticas, depende de como aquele que contempla as imagens as vê como portais que conduzem, por vias mais ou menos tortuosas, à presença Dele...


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