segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Endovélico, Semana 13: Relevância Atual


Depois desta exposição sobre Endovélico e seu culto, a pergunta surgindo na mente dos leitores é essa: muito bem, mas qual é a relevância disso tudo nos dias de hoje, porque reviver um culto esquecido de uma época e cultura ainda mais obscuras, qual o propósito disso? Essa pergunta tem dois níveis, o geral e o específico, e vou responder separadamente a cada um deles.
No plano geral, a razão pela qual pessoas de todas as nações, classes, culturas estão revivendo os antigos cultos politeístas é multiforme -- as religiões oficiais, incluídas aí a ciência e as ideologias políticas, já não dão mais conta da necessidade humana universal por sentido, valor e propósito da existência (diga-se de passagem, não pela primeira vez na história), e todas as vezes em que isso aconteceu as pessoas olharam para o passado e lá redescobriram uma pureza de crença e vitalidade de devoção que foram potentes o bastante para preencher as almas desses buscadores insatisfeitos; outros fatores, como a identificação com a cultura dos ancestrais desses buscadores, ou nostalgia por épocas em que a vida era menos complicada e mais heróica, ou a influência da ficção/fantasia, tem o seu peso aqui, mas a motivação fundamental vem do fato de que nem só de pão vive o homem, há necessidades espirituais que devem ser satisfeitas sob pena da morte-em-vida que vem caracterizando, cada vez mais, a paisagem anímica do mundo moderno.
No plano específico, porque Endovélico? Num mundo em que a medicina ganhou poderes inimagináveis de enfrentar doenças antes incuráveis e prolongar a vida, mas às custas de um pavor crescente da morte e uma recusa em aceitá-la como parte indissolúvel da existência, em que medicamentos novos prometem a cura ao preço de novos males e reações adversas, em que as doenças da mente são agora tratáveis, mas desde que se diga que a "alma" é meramente um circuito neuronal passível de conserto farmacoquímico -- em um mundo assim, não é evidente que o Curador, Oráculo e Psicopompo são mais do que nunca necessários, que as antigas e eternas verdades das relações sutis entre o corpo e a mente, da identidade essencial entre remédio e veneno dependendo do contexto, de que a morte pode ser em si mesma uma cura e uma libertação, precisam ser urgentemente redescobertas e aplicadas num mundo que deixou de ser são mas já não sabe mais como adoecer do modo correto?
E vejam bem, ambas as respostas acima são meramente humanas, centradas nas necessidades e nas ações puramente humanas -- mas os Deuses, Endovélico entre eles, são indivíduos dotados de razão, vontade e propósito, e a iniciativa do contato é no mínimo tanto deles quanto nossa; eles têm deixado bem claro, de vários modos, que estão interessados em voltar a fazer parte de nossas vidas, mas agora em bases menos desiguais, pois o mesmo desenvolvimento cultural que num primeiro instante nos afastou deles também nos deu os meios para que agora possamos compreendê-los melhor e, de modo livre e consciente, renovar as antigas alianças para o bem de nosso mundo.

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