Ategina, Semana 4: Mitos

"Esta semana foi motivo de preocupação para mim desde antes de decidir fazer as 30 Semanas, pelo simples fato de que os povos Celtas do continente europeu perderam todos os seus mitos originais sob a dominação de Roma, diferentemente dos Celtas das Ilhas Britânicas, que não sofreram esse flagelo -- ou seja, este post quase foi escrito assim:
'Não se conhece nenhum dos mitos relativos a Endovélico. Voltem na próxima semana' "

...pois então, foi assim que escrevi em 2014, e a situação não mudou: ainda continuamos sem os mitos originais da Ibéria e Lusitânia, e na sua ausência temos que nos basear em narrativas folclóricas e recriações modernas dos mitos ausentes.
E é aí que a Bruxaria Tradicional Ibérica nos presenteou com o mito da descida de Endovélico às profundezas no Equinócio de Outono e sua sagração como o Senhor dos Mortos, onde Ategina, aqui entendida como sua consorte, desce à sua procura e reina no Mundo-de-Baixo a seu lado, até que o Equinócio da Primavera abra os portais para que ambos retornem ao mundo da superfície; a imagem acima, onde Jeff Cullen retratou Perséfone retornada do Hades, é como eu vejo Ategina de regresso na Primavera, e é de adaptações e recriações como essas que vive o pagão moderno.

Ategina, Semana 3: Símbolos e Imagens

Tendo preparado o terreno com o contexto no qual Ategina surgiu em minha vida, agora vamos ver alguns dos símbolos a Ela atribuídos. 

Começando pelo seu animal consagrado, a Cabra:

(se a imagem acima põe nas suas cabeças ideias de bruxaria, ou possíveis alusões à famosa "oração da Cabra Preta", aguardem algumas semanas e analisaremos essa questão com mais detalhes)

É uma UPG minha que a sua ave consagrada é o Ganso:

Quanto aos símbolos vegetais, o Cipreste é o mais conhecido, mas pelo aspecto da fertilidade e à associação com Prosérpina eu incluo a Macieira e a Romã:

Pela sua dupla natureza (não dessemelhante à de Endovélico) seus símbolos na natureza são a Colina verde e a Caverna escura:

(e há quem diga que a Lua lhe está atribuída, mas não há evidências históricas disso);

No meu altar, os objetos que A representam são o Prato com o Pão e a Maçã; quem tiver estatuetas ou imagens de cabras ou gansos pode incluí-los na lista:

Não temos imagens esculpidas originais do período romano ou pré-romano, apenas altares com dedicatórias ou placas de maldição em seu nome, as famigeradas defixiones:

mas muitos criaram imagens modernas Dela, como essa escultura de Pedro Roque (2006) que une uma cabra em estilo realista com uma representação antropomórfica estilizada à moda pré-romana:

E encerro com as criações coloridas da portuguesa Mora Sininho Rosa (vão ver o site dela!):

E mais esta imagem devocional do Everson Romero:

Quem tirar um tempo para meditar nestas imagens aprenderá um pouco mais sobre essa Deusa ainda tão desconhecida...

Ategina, Semana 2: Primeiro Contato

Quem acompanhou o ciclo de Endovélico talvez lembre do que escrevi sobre o livro A Voz dos Deuses, de João Aguiar, um romance dos tempos de Viriato com embasamento histórico e arqueológico, e que me revelou o mundo das Divindades da Ibéria e Lusitânia; Endovélico, Ategina e os outros entraram na minha vida a partir daquele instante em 1996 quando encontrei esse livro, e leituras posteriores de outras obras, e muita meditação sobre todos esses conteúdos, só fizeram crescer o contato e a conexão com os Numes, e eu o recomendo a quem busca esse caminho.

Ategina, Semana 1: Introdução

Começamos por falar um pouco do básico sobre Ategina, começando pelo seu nome (e sua pronúncia: muitas vezes o nome é escrito como "Atégina" mas esse "é" NÃO É agudo, o acento apenas indica que o som é aberto, como na forma latinizada Atægina e na grafia francesa de "Astérix", e o "g" é como "gato") - o nome foi interpretado pelo arqueólogo português Leite de Vasconcelos como sendo Ate-Gena, 'renascida", o que evoca o sincretismo que os Romanos fizeram dela com Prosérpina, e sugere que ela teria a fertilidade do solo e das colheitas como uma de suas atribuições (ela também era considerada uma Divindade da cura, como Endovélico, e uma Deusa ctônica invocada em maldições e feitiços de vingança - como diz aquele ditado, "a bruxa que não sabe amaldiçoar não sabe curar").

Muitas cidades da Ibéria a cultuavam, entre elas Turobriga (que não sabemos onde ficava), que aparece na inscrição ATAEGINA TURIBRIGENSIS PROSERPINA , que atesta o sincretismo já referido acima.

E o grupo português Moonspell, que já tinha homenageado outra Divindade ibérica, dedicou uma música a Ategina, contribuindo para que Seu nome seja novamente conhecido e reverenciado.

O resto, veremos nas próximas semanas. 

30 Semanas para Ategina

Eis que, 10 anos depois das 30 Semanas para Endovélico, a Inspiração vem para um novo desafio em um novo ciclo - 30 postagens semanais, explorando os aspectos desta Divindade tão pouco conhecida, nos mesmos moldes do ciclo anterior:

1) Introdução
2) Primeiro Contato
3) Símbolos e Imagens
4) Mitos
5) Família
6) Panteão
7) Nomes e Epítetos
8) Aspectos e Variações
9) Concepções Errôneas
10) Oferendas
11) Festivais, Dias Santos, Épocas
12) Locais de Culto
13) Relevância Atual
14) Culto Moderno
15) Aspectos Mundanos
16) Valores do Panteão
17) Relações com Outros Panteões
18) Gênero e Sexualidade
19) Qualidades
20) Arte Evocativa
21) Música Evocativa
22) Texto Evocativo
23) Literatura Evocativa
24) Testemunho Positivo
25) Testemunho Negativo
26) Relacionamento
27) Enganos
28) Desconhecimento
29) Experiência Pessoal
30) Conselhos

...começando amanhã, não percam!