quarta-feira, 19 de abril de 2017

Nativos


Hoje, 19 de Abril, é o Dia do Índio, e as postagens nas redes sociais se dividem entre as que comemoram a data e os que lamentam o que foi feito à população indígena no meio milênio passado; mas eu meditei a respeito e me ocorreram certas idéias que quero partilhar agora.
Nós os chamamos de "nativos", os que nasceram aqui, e "indígenas", os deste local, e não usamos estes termos para nós mesmos, nem se formos a sétima geração nascida no Brasil, porque sabemos no fundo que nossas tribos vieram de longe, Europa, África e Ásia: em algum ponto perdido no passado nossos antepassados também foram nativos de uma terra, indígenas daquele lugar, com o mesmo relacionamento com seu solo-mãe que os índios daqui tem com esta terra. Não é demais repisar isso: os Romanos olharam os nossos ancestrais Celtas, Germanos, Eslavos e outros povos "nativos" do mesmo modo que os "descobridores" europeus olharam os indígenas aqui, como selvagens incultos a conquistar e por a seu serviço ou criaturas a serem aculturadas e integradas à civilização verdadeira (...)
Nesta terra miscigenada e pan-cultural, somos os descendentes na diáspora de várias tribos nativas, sem sequer saber de todas elas ou dos solos sagrados que lhes deram origem, e eu ouso dizer que, por detrás do preconceito que muitos ainda tem contra os índios, se esconde uma imensa e amarga inveja inconsciente, porque eles, "primitivos" como aparentam ser, tem esse tesouro da conexão ancestral com a terra natal que nos foi negado (e há tanto tempo que nem sequer tivemos consciência da perda).
Deveríamos ser capazes de respeitar e zelar pelos nossos povos nativos simplesmente por eles serem humanos como nós, de sangue igualmente vermelho, mas se essa empatia básica ainda for difícil de evocar, talvez pensar que, na noite dos tempos, nossos ancestrais deviam ser bem parecidos com eles ajude a fazer nascer esse senso de responsabilidade e solidariedade tão necessário em nossos tempos.

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