Qualquer um de nós que teve a oportunidade de cultuar, e então contactar, alguma das Divindades antigas, tem inúmeras histórias para contar -- ou teria, se algumas delas não estivessem sob interdição por ordem da Divindade em questão e a maioria delas, como já disse, ocorrer de modo tão despretensioso e ordinário que simplesmente não teriam sentido para alguém fora da relação. Mas esta semana é a das vivências particulares, diferentemente dos testemunhos dados anteriormente, então vamos ver o que conseguimos...
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Você está diante de um monte tumular verde, numa planície verde, do outro lado de um rio de águas escuras; cruze o rio, raso e muito frio, até a outra margem, e caminhe ao redor do monte, no sentido anti-horário, até encontrar uma entrada no monte (voltada para qual direção?), com dois pilares de pedra negra e uma terceira pedra suspensa sobre eles; entre no monte e siga por um corredor estreito e escuro, com cheiro de terra, até uma luz bem no coração do monte.
Você está numa cãmara de terra revestida por pedras enormes, e na parede oposta à entrada uma imagem de Endovélico em pedra negra o encara com olhos de pedra branca (como é a imagem?); uma mesa de pedra à frente da imagem apresenta duas lãmpadas de óleo acesas, e uma bacia de cobre para oferendas; dê o que acaba de surgir em suas mãos (o que é?) e peça permissão para descer, com suas próprias palavras, ajoelhado diante do altar.
Se nada de especial acontecer, a permissão não foi concedida; agradeça mesmo assim e saia pelo corredor até o lado de fora, atravesse o rio de volta e encerre a visão.
Se você encontrar um buraco largo e escuro sob o altar, você ganhou salvo-conduto de ida e volta; agradeça, entre no poço, encontrando degraus sob os pés, e desça com cuidado, mão esquerda tocando na parede ao lado, girando para baixo no sentido horário; a luz vai ficando mais distante na câmara acima, até desaparecer, e a descida se faz na escuridão total.
Tão profunda é a escuridão que mesmo os olhos da mente tentam preenchê-la com luzes, cores e imagens; em certo ponto os degraus terminam, mas as cores e luzes se organizam numa imagem clara...
...uma planície à luz da Lua (qual fase?), e um caminho sob seus pés; siga o caminho até chegar numa encruzilhada, quatro vias encontrando-se num ponto central. Um grande crânio de javali está no chão, uma vela negra na órbita esquerda, uma vela branca na direita, e uma vela vermelha na testa, e na sua luz vemos varias letras de uma escrita desconhecida cobrindo o osso branco, as presas revestidas de ouro; em suas mãos está um ramo de pinheiro, que é ofertado diante do crânio, enquanto você se levanta e olha.
Olhe o caminho à frente por alguns instantes, e veja o que houver para ver nessa direção; repita isso nos caminhos da direita, de trás e da esquerda.
Dê tempo para ver o que acontece, ou quem se aproxima...
Ao terminar, faça uma reverência ao crânio, dê meia-volta e saia; mesmo se ouvir qualquer coisa às suas costas, não olhe para trás, mas siga pelo caminho por onde veio até a imagem se desvanecer e a escuridão voltar.
Encontre os degraus apalpando na escuridão, suba com a mão direita na parede, no sentido anti-horário, até sair do poço sob o altar da cãmara; em suas mãos está um ramo de louro, que é ofertado no altar em agradecimento.
Sobre o altar há uma taça de cerãmica, na qual você bebe a mesma água fria do rio que cruzou para chegar aqui; agradeça, saia pelo corredor até o lado de fora.
Olhe a planície verde uma última vez (algo mudou?), cruze o rio para a outra margem, respire fundo e volte ao mundo do dia-a-dia.
Escreva o que viu e sentiu.
Escreva o que sonhar esta noite.
Não repita isso mais de uma vez por mês no início; mais tarde a visão pode ser repetida a cada sete ou nove dias.
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Essa visão me foi dada há muito tempo, e foi mudando a cada vez até a forma atual, que compartilho aqui --- que lhes seja de proveito!
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
Endovélico, Semana 29: Experiência Pessoal
segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
Endovélico, Semana 28: Desconhecimento
O tema desta semana é vasto, desde que o que se sabe comprovadamente sobre Endovélico é bem menos do que o que se desconhece...
Ele tinha outros títulos além dos encontrados nas inscrições dos seus altares? Existiram imagens dele no período pré-sincretismo romano, e como eram elas? Há alguma placa inscrita com uma invocação completa, quem sabe partes da sua liturgia, esperando que um arqueólogo empreendedor a encontre? Quais métodos eram usados para a incubação dos sonhos oraculares? Como era o processo de iniciação/consagração dos seus sacerdotes? Quantos e quais mitos sobre ele existiam?
...e essas são só as minhas perguntas: juntando todos os interrogantes, sejam pagãos com interesses devocionais ou historiadores com interesses mais técnicos, nossa ignorância coletiva encheria livros inteiros só com essas confissões do não-saber -- e o desgosto de desconfiar que muitas destas perguntas não terão resposta é uma dor sem nome e sem medida.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
Endovélico, Semana 27: Enganos
Meses atrás, vimos algumas concepções errôneas sobre a natureza de Endovélico; hoje, vamos olhar de perto o mesmo tema, mas centrado em meus erros e enganos sobre ele.
Acho que o maior dos enganos foi o de, no início, considerar apenas o lado solar de Endovélico, o seu aspecto luminoso, apolíneo, "romanizado" pelo sincretismo com Esculápio -- mesmo nesse tempo vários sonhos e presságios apontavam para uma outra face, escura e oculta, mas eu não soube reconhecer esses sinais naquela ocasião...foi só quando li o artigo de Gilberto de Lascariz, "A Demanda Mágico-Religiosa de Endovélico" (que, infelizmente, já não está disponível online) e lá encontrei a proposta divisão do ano em duas metades, a luminosa, regida por Andevélico, o "Senhor da Flor", e a obscura, regida por Enobólico, o "Muito-Negro", que o choque do reconhecimento se deu; li o texto, uma e várias vezes, e então me fiz a pergunta "e se for deste modo, o que acontece?".
Aconteceu que o Muito-Negro veio a mim de modo inequívoco, com um sentimento subjacente similar a "AGORA estamos nos entendendo..."
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
Endovélico, Semana 26: Relacionamento
Para falar do meu relacionamento com Endovélico, penso que não vou ser nada original -- como todos nós no meio pagão em relação aos nossos Padroeiros, eu parti de um ponto de desconhecimento quase total sobre ele e suas características, apenas com a certeza tão inexplicada quanto inabalável de que ele era o "meu" deus e que veio para ficar; com o passar dos anos, e certamente guiado por ele, fui encontrando os livros e sites de que precisava para entendê-lo cada vez mais (e, a partir de certo ponto, encontrando outros tutelados dele para trocar idéias).
Esse corpo de informação sempre crescente se refletiu na complexidade crescente dos meus ritos devocionais e numa compreensão mais aprofundada da natureza dele -- atualmente eu me sinto mais à vontade com o seu lado sombrio, e em consequência ele vem se revelando mais sob esse aspecto que sob os outros (que não deixaram de ser importantes, só estão sendo desenfatizados).
Um relacionamento devoto-Divindade é como qualquer outro, precisa ser deliberadamente cultivado de ambos os lados: da minha parte é um esforço combinado de oferendas, oração e meditação dedicados ao propósito de me aproximar dele, e da parte dele...bem, só posso repetir o que tantos outros estão dizendo, ou seja, que após dois milênios de exílio pelo culto do Ciumento, os velhos deuses estão voltando com tudo, e não lhes faltam sinais, sincronicidades e milagres pequenos e grandes com os quais eles atraem nossa atenção e sinalizam o seu retorno -- e bem sei que a cada dia mais pessoas despertam com alegria ao chamado que Eles fazem soar em nossas almas.