Nesta semana eu vou me autoplagiar e repetir o meu texto de 2014 referente à questão das oferendas, porque a natureza & propósito das mesmas segue imutável.
Começando pela questão mais imediata: porque fazemos oferendas de comidas e outros itens materiais aos Deuses, isso não é primitivo demais? Essa pergunta é bastante comum, não só fora das fés pagãs como no seio delas, e para responder a isso seria bom olharmos a sequência das versões da Liturgia da ADF -- no início a ênfase era em oferendas imateriais, geralmente música, canto ou poesia, sendo a resposta emocional dos participantes do rito às performances dos ofertantes parte essencial da oferenda, mas com o tempo a prioridade passou às oferendas materiais, e a declaração de membros da ADF a respeito mencionava várias razões para essa escolha: um afastamento deliberado da "imaterialidade" associada à espiritualidade judaico-cristã, antecedentes históricos e arqueológicos de oferendas em rios e lagos, e uma declaração enfática do valor intrínseco e sacralidade do mundo material e tudo o que ele contém. Claro, não é a substância material em si que Deuses, Ancestrais e Espíritos da Natureza levam da oferenda, mas a sua contraparte anímico-energética, juntamente com a devoção associada ao ato físico da oferenda.A outra pergunta que surge desta é a seguinte: os Deuses necessitam receber oferendas, há uma carência neles que a oferenda preenche? Se assim fosse, eles teriam todos perecido quando seus cultos foram terminados pelo monoteísmo predatório, o que não foi em absoluto o que ocorreu, como qualquer politeísta moderno pode confirmar -- a função da oferenda é exatamente a mesma de uma ou mais pizzas numa mesa cheia de amigos: uma troca de energia e presentes, um reforço dos laços de amizade, um pretexto para os participantes desses laços sentarem juntos em alegria. Nós não a vemos como um dízimo a ser pago, ou pior, como um jeito de comprar o favor divino e forçá-lo a acontecer em troca do que foi ofertado, como tantas igrejas modernas blasfemamente afirmam a seus rebanhos.
Então, as oferendas de pão, bolo, vinho, maçãs, rosas e (de vez em quando) romãs e queijo de cabra que faço a Ategina NÃO são superstição, sustento ou suborno, e se eu não as fizer Ela não será minimamente afetada -- o afetado serei eu, que estarei deixando de lado o procedimento testado e aprovado há milênios para estabelecer e reforçar os vínculos com a Divindade, e que recomendo expressamente a toda a gente.
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