Amanhã os que seguem a
Roda do Ano pelo Sul celebrarão o festival do Samhain, a Festa dos Mortos, o tempo em que os portais se abrem e o trânsito entre o Outro-Mundo e o nosso é livre -- sim, já
falamos disso antes, mas desta vez eu quero me ater não ao relacionamento com os que
já se foram daqui, mas à sua real natureza: quem, afinal, são os Mortos?
Milhares de livros, filmes & séries apresentam o Outro-Mundo como sendo uma cópia mais ou menos glorificada do nosso, onde as pessoas continuam sendo quem eram em sua vida terrestre, e tudo é lindo e feliz (ou horrível e miserável, dependendo do local...) -- mas vamos ver com olhos-de-Druida: se tivemos inúmeras vidas antes desta, porque os que morrem precisam se ater à forma, hábitos e personalidade da sua encarnação mais recente, ao invés de assumir outra? Ou melhor, qual é a essência comum detrás de todas as identidades encarnatórias, e será possível permanecer nesse aspecto intermediário?
Bom, dizem que a
Natureza é a mestra dos Druidas, não? Olhando a foto acima, de uma cigarra saindo de sua velha e ressecada pele para a sua nova existência pós-metamorfose, o que vemos? Cinco minutos de olhada, pessoal, depois prosseguimos...
..............................................................................................................................................................................................................................................
...então, vejam só, há suficiente semelhança entre a casca morta e a cigarra viva para reconhecermos que são o mesmo indivíduo, mas as mudanças nas patas, as asas e a forma do corpo mostram que o novo ser é de uma ordem diferente do anterior: como isso se aplica à nossa questão?
Se somos diferentes quando morremos, se ficamos como um celular resetado ao "modo de fábrica" que permanece quando os corpos e as personalidades que tivemos se dissolvem no tempo, qual é o significado disso? Podemos experimentar essas noções por conta própria, ao invés de ter que confiar em sacerdotes ou escrituras?
Kristoffer Hughes, Arquidruida da
Anglesey Druid Order (e legista certificado!), escreveu um belíssimo livro ano passado,
The Journey into Spirit, onde ele analisa essa questão e sugere um experimento.
Já aconteceu de você acordar pela manhã e, entre o abrir os olhos e levantar, passar alguns segundos ou mesmo minutos sem lembrar onde está, o que vai fazer naquele dia, ou até mesmo quem é você?
Claro, todos nós já experimentamos isso alguma vez, um modo de pura consciência sem uma identidade específica que a acompanhe...e esse estado (que pode ser deliberadamente alcançado e exercitado pela prática da
meditação) seria o da alma entre vidas, sem apego a alguma existência anterior em particular -- MAS, por outro lado, Hughes sugere que é pelas nossas lembranças do morto, a interação que tivemos com ele, que a alma pode estar presente, como que evocada por essas lembranças carregadas de afeto, e então ela pode "reassumir" sua identidade anterior como uma interface para o encontro: sem ectoplasmas, ritos em latim ou necromancias cinematográficas, simples, humilde e verdadeira evocação de alma a alma.
Amanhã, acenda uma vela, vasculhe os álbuns de velhas fotos, e convide os seus que voltam pela Porta entre os Mundos para um chá ou dois...
Nenhum comentário:
Postar um comentário