Na luz das velas do Altar, fiz a travessia para Andumnos, o Reino Profundo.
Diante de mim uma colina, e nela uma entrada mantida por um portal de três pedras, e acima de tudo a Lua brilhando.
Dentro da câmara escura da colina, nada senão dois tronos de pedra negra, lado a lado - percebo em minhas mãos duas coroas, uma de cipreste, outra de pinheiro, e reverentemente deposito cada uma num trono.
Então me volto e As vejo.
Veladas de negro, cestas nas mãos.
Nunca as havia encontrado em visão ou sonho, mas as reconheço imediatamente.
As guardiãs das raízes da terra, sustentáculo do mundo e tudo que há nele.
Elas a quem os Celtas de todas as partes chamaram simplesmente de Matres.
Um mínimo gesto delas, e avanço para estar à sua frente antes de sequer pensar em me mover.
A primeira delas estende sua cesta.
Entregue seus olhos, sua atenção, sua integridade.
Ponho em sua cesta uma chama viva.
Entregue seu cérebro, sua vontade, sua coragem.
Ponho em sua cesta uma nuvem relampejante.
Entregue sua cabeça, seu pensamento, sua perseverança.
Ponho em sua cesta um punhado de estrelas.
A segunda delas estende sua cesta.
Entregue seu fôlego, sua fala, sua generosidade.
Ponho em sua cesta um rodamoinho cintilante.
Entregue sua face, sua intuição, sua visão.
Ponho em sua cesta um raio de sol dourado.
Entregue seu sangue, sua imaginação, sua fertilidade.
Ponho em sua cesta uma onda fluida.
A terceira delas estende sua cesta.
Entregue sua mente, sua percepção, sua moderação.
Ponho em sua cesta o luar prateado.
Entregue sua carne, seu afeto, sua devoção.
Ponho em sua cesta um punhado de terra escura.
Entregue seus ossos, sua memória, seu conhecimento.
Ponho em sua cesta uma rocha polida.
As Matres saem no mais profundo silêncio.
Nada restou para entregar.
Nada restou de quem fez a entrega.
Nada restou.
A Escuridão vem e dissolve tudo.
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EX IMPERATO AVERNO.
Consciência surge onde o Vazio estava.
Vem.
Dois pilares de chama negra e cintilante, um diante de cada trono, cada um com uma das coroas ofertadas em tributo.
Vem, diz o murmúrio que emana das chamas.
O espaço entre elas é uma porta a atravessar.
VEM.
Num breve instante me vejo do outro lado da passagem, após um instante infinitesimal de dor intensa, e estou de novo de posse de meus dúile, dos nove Elementos que entreguei às Três.
Volto-me e vejo os pilares da chama negra, e sei que são os Senhores do Reino Profundo, que me refizeram e restauraram, e sinto a Vida fluindo em mim.
A dor que você sentiu não é sua, diz Ele.
É a dor do mundo e de todos que nele vivem, diz Ela.
Pelo que poderiam ter sido e não foram.
Pelo que foram e não deviam ter sido.
Essa dor agora desperta para ser curada.
E precisa passar por um coração humano para isso.
Você, e outros, podem carregar um pouco dela a cada dia, e assim aliviar o fardo do mundo.
Lembre que essa dor não é sua, e terá a força necessária para carregar e liberar o fardo sem torná-lo seu.
Eles sabem que aceito a tarefa.
E não poderia ser de outro modo.
Morri diante das Matres, e renasci pelo imperativo emanado das profundezas, pela vontade de Endovélico e Ategina, e nesta vida renovada não há espaço para a dúvida ou o cansaço de antes.
E, se houver, se a exaustão e o desânimo tomarem conta de mim, sei agora que posso morrer para o eu exaurido e renascer em força e vida abundante pelas mãos Deles.
Em profunda gratidão, reverencio Rei e Rainha do Andumnos, e um instante depois retorno da travessia para a luz das velas do Altar.
Neste Samonios, que o Mistério da Morte e da Vida se dê a conhecer a todos, da forma que cada um puder entender.
:TEIUOREIKIS: