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Ao longo destas 30 semanas, tentei passar algo da natureza de Ategina, e é possível que, a essa altura, alguns dos que leram isto tenham tido uma reação de reconhecimento após o impacto do primeiro contato, quem sabe até mesmo algo como um chamado à ação -- e agora, o que fazer? Como dar os primeiros passos na trilha do santuário da Renascida?
Eu começaria bem devagar, sem pressa, sem a obrigação de ter tudo perfeito desde o primeiro dia de devoção; isso incluiria até mesmo uma advertência para não fazer nenhum juramento ou consagração ao serviço Dela nesta fase, que deveria ser puramente exploratória.
Primeiramente, muita leitura e pesquisa: eu mencionei vários autores, livros e sites, inclusive com os links, e é sempre bom ir atrás de informação confiável, sem delírios esquizotéricos ou charlatanice deslavada.
Junto com o estudo, que pode ocupar semanas ou meses, pode-se iniciar uma prática devocional simples, talvez uma oração pela manhã, oferendas simples como pão e vinho ou maçã, um altar mesmo que seja só uma vela, sem imagens ou símbolos; o objetivo é iniciar uma aproximação a Ela, uma intenção de tentar entendê-la e criar um relacionamento -- uma oração do tipo "eu ainda não a conheço bem, mas por favor aceite minhas oferendas, e deixe-me conhecê-la melhor", ou algo parecido, seria adequada à ocasião.
Preste atenção, ao longo do dia, nos presságios e eventos inusitados que ocorram, e anote cada sonho que tiver, mesmo que não pareçam fazer sentido, porque é aí que as respostas Dela às suas invocações poderão ser encontradas.
Se você fizer isso por algumas semanas, ou um contato mais direto ou uma certeza crescente de que esse não é o seu caminho vão se manifestar, e então aja de acordo com a resposta; talvez aí seja a ocasião para tentar a meditação visionária da semana passada, e prestar muita atenção nas imagens que surjam durante a visão.
Se chegar à conclusão de que este não é o seu caminho, despeça-se Dela com uma última oferenda e agradecimentos; se descobrir que está se sentindo em casa com esse relacionamento, agradeça a Ela por isso e aí, se quiser, faça um rito de dedicação agora (nada muito elaborado, apenas declare sua intenção de se ligar a Ela de modo mais comprometido), e seja bem-vindo à crescente congregação dos seus devotos!
Que estas Semanas de Ategina lhes sejam benéficas!
Bênçãos dos Deuses e não-Deuses aos que lêem isto!
Qualquer um de nós que teve a oportunidade de cultuar, e então contactar, alguma das Divindades antigas, tem inúmeras histórias para contar -- ou teria, se algumas delas não estivessem sob interdição por ordem da Divindade em questão e a maioria delas, como já disse, ocorrer de modo tão despretensioso e ordinário que simplesmente não teriam sentido para alguém fora da relação. Mas esta semana é a das vivências particulares, diferentemente dos testemunhos dados anteriormente, então vamos ver o que conseguimos...
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Você está diante de um monte tumular verde, numa planície verde, do outro lado de um rio de águas escuras; cruze o rio, raso e muito frio, até a outra margem, e caminhe ao redor do monte, no sentido anti-horário, até encontrar um caminho de subida ao monte (voltado para qual direção?), com dois pilares de pedra negra e uma terceira pedra suspensa sobre eles como entrada do caminho; suba ao monte e siga por uma trilha serpenteante e escura, com cheiro de terra, até uma luz bem no alto do monte.
Você contempla uma pilha de pedras que chega à sua cintura, coberta de flores secas, com um crânio de cabra sobre ela; os chifres são revestidos de prata, há uma vela preta na órbita esquerda, uma vela branca na órbita direita, uma vela vermelha entre os chifres, e o crânio está recoberto de letras desconhecidas; faça uma reverência ao crânio e peça permissão para descer às profundezas, ofertando o ramo de cipreste que subitamente surge em suas mãos.
Se nada ocorrer, não é a ocasiao: agradeça, desça pela trilha, volte por onde veio.
Se for a ocasião...você subitamente cai para dentro do monte, uma escuridão fria e silenciosa, e após eras de queda você se percebe deitado na escuridão total, que lentamente deixa ver um círculo de pedras negras entremeadas com ossos brancos, e uma fogueira no centro que cheira a resina de cipreste.
Olhe para além do círculo à sua frente, veja o que (ou quem) há para ser visto; olhe à direita, atrás e à esquerda, dando tempo para perceber o que se revela ali.
Agradeça, vire de costas para o fogo central, deite-se, feche os olhos; num instante você flutua na escuridão sobre o abismo, no instante seguinte está diante do crânio de cabra no monte santo.
Sobre o altar há uma taça de cerãmica, na qual você bebe a mesma água fria do rio que cruzou para chegar aqui; ofereça a romã surgida agora em suas mãos como agradecimento, faça uma reverência, volte-se e desça pelo caminho, sem olhar para trás, até cruzar o portal de pedra.
Olhe a planície verde uma última vez (algo mudou?), cruze o rio para a outra margem, respire fundo e volte ao mundo do dia-a-dia.
Escreva o que viu e sentiu.
Escreva o que sonhar esta noite.
Não repita isso mais de uma vez por mês no início; mais tarde a visão pode ser repetida a cada sete ou nove dias.
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O tema desta semana é vasto, desde que o que se sabe comprovadamente sobre Ategina é bem menos do que o que se desconhece...
Ela tinha outros títulos além dos encontrados nas inscrições dos seus altares? Existiram imagens Dela no período pré-sincretismo romano, e como eram elas? Há alguma placa inscrita com uma invocação completa, quem sabe partes da Sua liturgia, esperando que um arqueólogo empreendedor a encontre? Quais métodos eram usados para as defixiones no período pré-romano? Como era o processo de iniciação/consagração dos seus sacerdotes? Quantos e quais mitos sobre Ela existiam?
...e essas são só as minhas perguntas: juntando todos os interrogantes, sejam pagãos com interesses devocionais ou historiadores com interesses mais técnicos, nossa ignorância coletiva encheria livros inteiros só com essas confissões do não-saber -- e o desgosto de desconfiar que muitas destas perguntas não terão resposta é uma dor sem nome e sem medida.
Reavaliando o meu culto às Divindades celtolusitanas, vejo um erro de abordagem já no princípio, que está sendo corrigido pela crescente aproximação a Ategina.
Como disse antes, minha devoção quase exclusiva a Endovélico deixava os outros Numes em segundo plano, menções honrosas num culto para todos os efeitos henoteísta; nas cada vez menos raras ocasiões em que eu sentia o impulso para ampliar o foco e adotar (ou ser adotado) por uma outra Divindade padroeira, Ategina era a que primeiro aparecia diante de mim -- para ser imediatamente negada, sob o pretexto de que isso ficava com cara do par Deus&Deusa da Wicca (...) e não podia ser um chamado legítimo.
Mas as evidências se impõem à razão, após serem inquestionavelmente aceitas pela intuição, e assim Ela veio para ficar.
E desde então, cada vez mais eu me convenço de que a devoção a um padroeiro específico é uma atitude arriscada por ser desequilibrada a longo prazo, tendendo a levar a uma identificação unilateral e possívelmente patológica com os arquétipos associados à Divindade em questão; o pareamento com outra Divindade tende a flexibilizar essa identificação por oferecer aspectos complementares e harmônicos à consciência do devoto, para sua saúde psíquica e espiritual.
"Coincidentemente", como dizem os profanos, semana passada eu conversava com uma pessoa do meio Pagão que estava justamente apresentando essa identificação excessiva com a sua Padroeira, e me veio a intuição de sugerir a ela incluir a devoção a outra Divindade que é tradicionalmente considerada sua consorte, com atributos praticamente opostos agindo para equilibrar as influências espirituais e psicológicas sobre ela, que disse que iria tentar.
Pode ser o meu lado libriano, eu sei, mas cada vez mais eu me inclino a recomendar a devoção a pares Divinos (que não precisam ser amantes: irmãos como Aengus e Brighid ou Modron como mãe de Mabon também valem), e agradeço a Ategina por me revelar isto e trazer mais harmonia à minha vida.